sexta-feira, novembro 02, 2007

Recortes de imprensa






























"Hora de nados-mortos"




1º prémio




Concurso de gravura




Ano Europeu do Ambiente




Setúbal/Beauvais





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Prémio de ediçãoI




IV Exposição Nacional de Gravura




Cooperativa GRAVURA/Fundação Calouste Gulbenkian









(...)E aqui se situa uma outra evolução no modo de fazer da pintora. Se outrora a "figura" era tão presente que ela mesmo definia o espaço, agora define-se claramente a relação campo-"figura",nesta figura, de modo nenhum figurativa.





...Temos assim, por vezes, uma situação teatral declamante de ambiguidade; outras vezes uma ambiguidade intrínseca à própria composição.(...)




Porfírio Alves Pires.Nov.1990.Diário de Lisboa





































Corpos e Almas/JL

autor:_Prof Pintor Rocha de Sousa


Um sentimento de tragédia atravessa a pintura de Maria João Franco. A sua visão do mundo, constrangida pela dor e pelas sombras de que sõ feitas as noites longas do tempo,deixa-nos pressentir fragmentos de corpos nús,talvez destroçosde sonhos que se materializaram de forma enovelada e parda. Enfrentamos nesses espaços um conjunto de enquadramentos sumários, na aproximação de cada focagem, de cada pedaço de matéria,de coisa inominável. Não sabemos quase nunca,se nos defrontamos com matérias inorgânicas ou com materiais orgânicos,se a vida passou por ali, entre gritos mutilados e palavras sem voz(...)







(...)Os pontos de partida encontram-se parcialmente com os pontos de "chegada", as pinturas rupestres,os sulcos das rochas,e os materiais em extrema diversidade desta civilização autofágica.






O drama desta obra parte de si mesma, do modo de a formar, desde a mistura lúdica de vários materiais sem sentido até á grande metáfora do nosso destino cósmico(...)

(...) Os fragmentos dos corpos que surgem naquela pintura são vestígios simbólicos, sagrações de um sofrimento absurdo. Bocados de gente ou de deuses, em todos os tempos houve vagabundos e artistas parietais viajando no ciclorama do mundo e aí gravando mensagens premonitórias, a raiva e o amor, a guerra e a paz. Desertos de pedra. rochas que modelamos na cova de um imaginário perturbado portantos milénios de perguntas sem resposta. Eis-nos de novo perante as paredes das cavernas, amassando óxidos e outrs impurezas, riscando ou sobrepondo figuras de um contexto duríssimo. A pintura abstracta de Maria João Franco vai buscar às raízes expressionistas e líricas a massa para um novo começo das coisas, terras, gelos, rochas, a misteriosa simbiose da mistura dos matrais inorgânicos com os orgânicos, água deslizando, sangue a anunciar os sacrifícios iniciais, perante um deus feito à imagem e semelhança de um homem pretérito.





Rocha de Sousa in "Jornal de Letras & Artes" sobre a série NOVOS FRAGMENTOS_1998_Galeria Municipal GYMNÁSIO_Lisboa








Maria João Franco não tem abandonado aquele sentimento de tragédia que assinalámos no texto CORPOS E ALMAS onde procurávamos apresentar a sua última exposição.





Essa atitude da autora ,agora prolongada numa série de desenhos, conserva, salvo as diferenças que as matéris impôem aos materiais, o mesmo espírio de dor e de sombras que a sua pintura trabalhava entre formas enoveladas e pardas. Também aqui não sabemos muitas vezes se bos defrontamos com matérias orgânicas ou com materiais orgânicos, se a vida passou por aí, (1)(...)(ver CORPOS E ALMAS)





SEGREDOS DA LINHA E DA SOMBRA





Trabalhando por vezes com carvão sobre tela, formando linhas e sombras de uma visibilidade assiduamente agressiva, é a pintura que está na memória desres desenhos, a sua modelação em claro-escuro, a textura que sobeja das matérias sobre os materiais, ou seja: formas ou parte delas começando, pela técnica, pelo modo, a dar corpo a um universo dolorido, emergindo quase sempre do escuro, e no qual podemos paralelamente relacionar corpos nús, bocados deles se respondemos ao apelo que esta obra propõe na exploração do pormenor, detalhe ela também de qualquer batalha perdida, mutilações, a dor e a sombra, apesar dos instantes de luz que parecem revelar mais do que o sono, antes a morte.(...)





DESNUDAMENTO DA DOR





Fiel a si própria, fiel a uma espécie de luto que paira sobre ela, Maria João Franco não sai deliberadamente desta exploração onde os corpos e os fragmentos nos forçam a diversas encontros da memória contemporânea, desde Treblinka (como referi antes) aos rios empapados de corpos num dos recentes conflitos africanos. Não interessa se isto não se passou assim na cabeça da pintora: se ela não se compromete com títulos das suas dilacerações, nós podemos viajar em liberdade por esta (para mim) colossal desnudamento da dor.




(1) Rocha de Sousa/texto Corpos e Almas/prefácio de exposição




Rocha de Sousa




Jornal de Letras &Artes_2 de Dezembro de 1998












Vai-se ao âmago destas cores, ao seu núcleo mais íntimo e secreto e sente-se a respiração da terra a rebentar nos poros, a vibração nas raízes, a levar estremecimentos de vento até onde o olhar chega.
Como explicar o inexplicável? Como dizer o indizível?
O fogo e a fúria que habitam estas telas são ancestrais e profundos como a memória das mãos que remexem o húmus, que profanam a
quietude da seiva, que rasgam o silêncio dos mitos.
A cada cor corresponde a força orgânica de um gesto que tanto pode representar crispação e mágoa com sede de luz, como incontida ânsia de mais espaço, como torrencial desejo de exprimir o inexprimível.
Há nestes quadros uma sabedoria antiga, imaterial, que clama por cumplicidade e partilha, por entendimento e entrega.
Não se espere deles, porém, que nos franqueie todas as portas e todos os mistérios, que a textura em que se materializem tem muito de ciência alquímica, de saber oculto e perene.
Pode bem acontecer que o olhar, ao confrontar-se com a força telúrica destes óleos em revolta, serpenteie pelas arcas da lembrança e encontre a Espanha negra, fragmentos de um universo goyesco, rituais de penitência e de sabedoria trágica.
Como explicar o inexplicável?
Como dizer o indizível?
Há nestas telas a raiva faíscante do traço e o tom lancinante do grito. Cada cor está em trânsito para outra cor. E bem pode ser corpo ou voz, amálgama de braços ou explosão vegetal, novelo de lumes ou espiral de sombras. Cumpre-se nestas telas o mistério supremo da pintura.

José Jorge Letria
9 de Maio de 1989

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